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Isolamento pela Covid-19 não deve impedir interação com familiares

Profissionais e pesquisadores da área de comunicação em saúde estimulam visita virtual

Viver a pandemia pode ter diferentes perspectivas. Dentre elas, certamente, ser paciente ou familiar de um paciente internado podem ser as mais dramáticas, principalmente pacientes idosos e correndo maior risco de agravamento do seu quadro.

Normalmente, a maioria dos serviços permite presença de acompanhantes durante as internações, principalmente para pessoas idosas e crianças. Além disso, existem horários claros de visita que variam conforme a instituição. A companhia de um ente querido pode ajudar no enfrentamento das doenças e no melhor convívio com o novo ambiente longe de casa.

As recomendações da Organização Mundial da Saúde são claras e fortes com relação ao novo Coronavírus: isolamento físico completo, principalmente para pacientes graves. Estas pessoas apenas terão contato físico presencial com os profissionais de saúde.

Observando as médias de tempo de internação, recuperação e falecimento, temos um cenário que pode já estar sendo dramático para muitas pessoas. Pessoas estão sendo internadas, permanecendo longos períodos no hospital, muitas piorando e falecendo. Familiares em casa, informações de forma indireta e muitos sem interação com o paciente.

Outro ponto observado é de que a elevação do número de casos tende a ser rápida, dificultando adaptações durante o pico numérico. Soma-se a isto o fato de que, no Brasil, mesmo para pacientes menos graves, em se tratando de idosos de baixa renda, poucos terão manejo e acesso a um aparelho telefônico, e para os pacientes mais graves, em uso de ventilação mecânica, certamente a maioria atravessará os dias apenas ao som dos aparelhos.

Para um grupo de estudiosos da área de comunicação em saúde é possível adaptar os hospitais para um modelo de visita virtual simples e de baixo custo. Para eles, a instituição deveria constituir um time de comunicação para a crise, composto por psicólogos e outros profissionais, que agendariam as interações com familiares via aplicativos simples de videochamadas.

Para o mesmo grupo, pacientes sem capacidade de comunicar verbalmente poderiam receber diariamente mensagens ou chamadas em viva-voz das pessoas que amam. Documento, já disponível em sites como do COREN-SP e SOTAMIG, orienta as instituições em como organizarem seus times para que as visitas virtuais ocorram e apoiem a organização do tempo para os times da ponta, principalmente enfermeiros, médicos, fisioterapeutas e técnicos de enfermagem.

Para Douglas Crispim, médico e um dos autores, “basta imaginarmos uma pessoa doente, idosa, sem poder falar com seus familiares há dias, e multiplicar isto por centenas de casos”. Segundo ele, a função dos autores é “facilitar e dar ideias para os hospitais e unidades com leitos improvisados. Preparar antes pode reduzir muito o estresse da equipe e líderes durante o pico dos casos”.

Para Sarah Ananda, médica e autora, “as instituições precisam adaptar-se a esse novo cenário que estamos vivenciando e, principalmente, saber que há sim como conciliar a efetividade e humanização usando a tecnologia como nossa aliada. O isolamento físico não deve impor também um isolamento de informações e trocas para todos envolvidos: pacientes, familiares e profissionais de saúde”.

A professora e pesquisadora da USP Maria Júlia Paes da Silva "recorda que aliviar o sofrimento é possível sempre, e que é com a comunicação adequada e sensível que os profissionais se mostram remédio”.

Millena Câmara, psicóloga e membro do IWG, chama atenção para que "os adultos fiquem atentos às crianças enquanto membros da família e ao seu direito de receberem as informações sobre os agravos e sobre a morte de seus familiares, possibilitando que vivenciem seu luto de forma acolhedora e integrada aos demais familiares e assim possam ser cuidadas em seu sofrimento diante da perda. O desamparo está na solidão de um luto que não é permitido e assim precisa ser silenciado”.

O sofrimento da equipe não pode ser deixado de lado, profissionais de saúde também sofrem: “As equipes de profissionais que estão à frente nos cuidados aos pacientes são formadas por pessoas, filhos, pais, mães, esposos e esposas que sofrem ao verem seus pacientes vivendo a angústia de terem seus familiares ausentes nestes momentos. Comunicar-se é essencial para a vida, em todos os âmbitos. Quando interagimos nos tornamos mais fortes frente aos desafios, ainda que seja de forma virtual”, finaliza Walmir Cedotti, que atua no Hospital das Clínicas da FMUSP.

Os autores disponibilizam um e-mail para apoiar e tirar dúvidas de instituições e profissionais: comunicandomelhornacrise@gmail.com

Para baixar os documentos na íntegra, acesse um dos links abaixo:

Foto: Engin Kyurt/Unsplash

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