Luto infantil – Como ajudar uma criança enlutada?
Um tema recorrente, no entanto, pouco explorado em nossos lares e no ambiente de trabalho: o luto infantil é o tema dessa semana e será abordado por Millena Câmara.
Millena é psicóloga especialista em psicologia hospitalar, possui especialização em Perdas e Luto. É membro da IWG - International Work Group on death, dying and bereavement. Idealizadora e membro do Núcleo de Apoio e Perdas.
"A morte é um tema difícil de ser abordado entre os adultos e quando se refere às crianças parece uma proibição que, se violada, poderá causar danos irreversíveis a saúde mental das mesmas.
Será que é verdade que as crianças precisam ser poupadas do assunto morte para se manterem saudáveis? As crianças compreendem a morte? As crianças se enlutam? Quais as reações comuns quando as crianças perdem alguém importante? Como podemos ajudar uma criança que está sofrendo a dor da perda?
Muitas perguntas e muitos medos permeiam os adultos que cuidam e amam uma criança que vivencia uma perda. O sofrimento da criança, muitas vezes nos paralisa e nos coloca diante da nossa impotência e por que não dizer da grande ilusão de que nosso amor protegerá quem amamos de sofrer.
As crianças se enlutam, sofrem a dor da perda e tem direito a vivenciar seu luto para que possam seguir saudáveis. Reagem à ausência à sua maneira, o que pode parecer que não sofrem, pois oscilam e se “distraem” do luto, o que as torna, por vezes, mais saudáveis que os adultos. Mudanças de comportamento, principalmente na escola, medos, reações a ausência de uma pessoa a qual tem vínculo (angústia de separação), isolamento, insegurança, perda do prazer, raiva, culpa, fantasia de que foi o causador da morte, choro fácil, comportamentos agressivos e intolerantes, dentre outros podem ser algumas das reações e sentimentos possíveis. Importante observar o que era comum e o que passa a ser diferente que surge após a perda, além da intensidade dos mesmos.
Acolher e estar disponível ás necessidades da criança são formas de ajuda-la a lidar com sua dor diante da perda. Ouvir e fazer perguntas claras e objetivas a fim de compreender o que se passa em seu mundo interno e nomear sentimento que podem ser novos ou confusos.
A vivência do luto, com adequado acolhimento por parte dos adultos que cuidam da criança contribuem para o desenvolvimento emocional saudável da mesma e ameniza os danos decorrentes de ausência de alguém amado.
O luto é um processo natural e necessário, um período de adaptação às mudanças causadas pela perda. Para a criança a vivência do luto acompanha seu processo de desenvolvimento cognitivo atingindo a compreensão completa sobre a morte (quatros componentes: irreversibilidade, não funcionalidade, universalidade e causalidade.) quando adquire o pensamento operatório concreto. Importante considerar que esta compreensão depende de fatores como vivências anteriores de perdas, estímulos, características de personalidade da criança e a forma como os adultos abordaram o tema.
Importante ressaltar que a criança pode se reenlutar ao longo do seu desenvolvimento cognitivo quando vai adquirindo mais capacidades e necessidades de compreensão, para tanto é importante que os adultos responsáveis saibam como lidar e responder ás questões que possam surgir.
Mas de quem é a maior dificuldade em lidar com o sofrimento da criança? Sim, dos adultos. Nós que, muitas vezes, não suportamos ver uma criança sofrendo e achando que a estamos protegendo, acabamos por inibir expressões levando-as ao isolamento e solidão diante da dor.
Perdas fazem parte da vida e como lidamos com elas é aprendido ao longo de nossa história sendo a infância uma fase importante no desenvolvimento dos recursos para o enfrentamento das crises ao longo da vida. Assim sendo, a forma como o adulto acolhe e lida com as perdas e o luto da criança tem grande influência na forma como a mesma vivenciará seus lutos.
Ganho e perdas; alegrias e tristezas; vitórias e derrotas, disso é feita a vida da criança, do adolescente, do adulto e do idoso, enfim ao longo de todo o processo de desenvolvimento humano seguiremos experimentando e aprendendo, podendo desenvolver recursos de enfrentamentos mais saudáveis e adequados a cada situação, nos tornando mais resilientes. O mesmo amor que nos faz “chorar” /sofrer é o que nos ajudará a continuar e reorganizar a vida, da melhor maneira possível.
Fica o alerta para que nossas crianças tenham o direito a sentir a dor da perda, já que não podemos evitá-la, e tenham o apoio e acolhimento adequados para que sigam saudáveis."
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